Que sensação de vazio! Era como se algo estivesse faltando e Clara não fazia a menor idéia do que era. Todos os dias antes de dormir, Clara pegava um diário e passava alguns minutos escrevendo, relendo alguns trechos anteriores, refletindo sobre seus dias mas a sensação não passava, e ela sentia-se muito triste e em conflito porque não entendia exatamente o que estava acontecendo com ela.
Muitas vezes, se pegava num sentimento de culpa absurdo, pois ela tinha “tudo que uma vida perfeita” pede. Ela tinha uma saúde ótima, poucas vezes ficava doente e sua recuperação era sempre rápida. Ela estava morando no apartamento dos seus sonhos, no bairro que sempre gostou, na sua cidade natal, a decoração foi pensada e realizada com muita dedicação aos detalhes. Tinha seu companheiro fiel, um cachorro chamado Fred.
Estava noiva há 7 meses de uma pessoa que havia conhecido em outro país, por conta de um processo de expatriação na empresa que trabalhava. Amava suas atividades e a empresa na qual estava trabalhando. Contava os dias para chegar o fim de ano e seu noivo chegar, ele estava de mudança para o Brasil.
Clara estava num momento super próspero de sua carreira, havia sido reconhecida mundialmente por um projeto de sua autoria, havia recebido como prêmio: bônus e também uma viagem para o Emirados Árabes, que faria no final de ano com o noivo. Aliás, viajar era uma das coisas que Clara mais gostava na vida, no seu planejamento financeiro sempre reservava uma boa quantia para alimentar esse hobby. Seu passaporte já estava bastante carimbado com suas aventuras ao redor do mundo.
Ela conseguia visitar sua família numa cidade próxima onde morava, ao menos uma vez por mês. Tinha um grupo de “super amigas”, que conhecia desde a infância e mantinha contato até hoje, amigas com quem podia contar nos bons e maus momentos.
Seus questionamentos eram carregados de raiva, autocrítica, pensava como ela podia estar triste com tudo isso de bom na minha vida? Tinha uma sensação que lhe tomava o peito, uma angústia, se sentia uma ingrata com o universo por não ficar feliz, ou estar feliz o tempo todo com tudo isso que tinha.
Clara decidiu então que iria voltar para terapia e procurar um processo de autodesenvolvimento para entender melhor o que estava acontecendo, se havia algo que ela pudesse fazer para cessar ou amenizar essa angústia que sentia.
Aos poucos Clara foi tendo mais clareza de seus pontos fortes, suas conquistas, seus valores, seu propósito maior, foi compreendendo que havia muitos caminhos para alimentar as necessidades da sua vida, percebeu que haviam caminhos para alimentar diferentes “fomes” do seu corpo. Percebeu que tinha necessidade de celebrar suas conquistas, ela trabalhava tanto para alcançá-las mas quando os alcançava não os celebrava, geralmente a sensação era de que não havia feito nada demais, era só mais uma obrigação, afinal de contas era tão privilegiada.
Ao longo dos meses que decidiu mergulhar em si mesma e encontrar respostas para seus questionamentos, retomou suas práticas de meditação e práticas de yoga para conectar-se consigo e sua essência. Voltou a dedicar-se a sua espiritualidade mais frequentemente. Aos poucos aquela tristeza foi se revelando, entre outras necessidades ela percebeu que queria ser autêntica, estava exausta daquela rotina que imprimia um ritmo muito acelerado e onde estava dentro de uma “caixinha apertada” não podia usar toda sua espontaneidade e tão pouco seu potencial artístico.
Encorajada por uma de suas melhores amigas, voltou para aulas de pintura, que tanto gostava na sua infância e adolescência e um de seus projetos era criar um quadro que representasse ela e o noivo para colocarem na decoração do casamento.
Clara, entendeu que até a tristeza, que a deixava tão inquieta e angustiada, tinha uma função positiva. Foi a tristeza que mobilizou Clara para que ela percebesse que havia pontos que ela estava desatenta e se escolhesse olhar para isso com carinho, descobriria caminhos para momentos felizes mais autênticos e genuínos.
A tristeza também mostrou para Clara que é possível ser bom e ruim, certo e errado, justo e injusto, melhor e pior tudo ao mesmo tempo e na mesma pessoa.
Toda emoção revela uma necessidade e cabe apenas a nós entendermos exatamente o que essa emoção quer nos dizer. Invista seu tempo olhando e escutando a si mesmo para se sentir que suas escolhas estão coerentes com a sua essência, com a vida que você gostaria de ter e que te levam em direção a sua própria evolução.